Do meu artigo originalmente publicado na Gazeta do Povo em 23/02/2019
A Quarta Revolução Industrial — marcada pela confluência de diferentes tecnologias tais como Inteligência Artificial (IA), Impressão 3D, Internet das Coisas, dentre outras — tem deixado CEOs de cabelo em pé quando o assunto é inovação, pois jamais o mundo tinha visto um processo tão disruptivo de transformação dos negócios e de empresas inteiras. Na vanguarda desta discussão, o que mais se debate hoje, principalmente dentro de grandes empresas, é como inovar. Não há dúvidas de é preciso fazê-lo, mas quais são os caminhos disponíveis para se chegar lá e por qual deles seguir? Uma boa maneira de começar é analisar as quatro estratégias utilizadas por fenômenos como Apple, Google e HP:
Forma 1 - Copiando alguém
Esse é o método mais popular. Pode parecer simples, mas o modelo ainda pode funcionar muito bem quando o assunto é ganhar tempo e sobreviver, principalmente em mercados com alto grau de comoditização. O segredo aqui é o famoso “pulo do gato” no desenvolvimento do produto — copie, mas faça de modo diferente e melhor, o que pode ser caracterizado por um superior modelo negócio, preço ou experiência do cliente por exemplo.
Os exemplos aqui são inúmeros, mas gosto muito de citar o Mercado Livre que foi uma adaptação do e-Bay para o mercado latino americano. Juntam-se a esta lista, sucessos como OLX e Despegar, irmãs gêmeas latinas das norte americanas Craiglist e Expedia, respectivamente. Recursos que a Apple introduziu no iPhoneX, tal qual a tela sem borda, reconhecimento facial e carregamento da bateria sem fio, já apareciam nos aparelhos de suas concorrentes como a Samsung.
A dica aqui é se for copiar, faça melhor do já existe no mercado e adapte-se às especificidades do público local.
Forma 2 - Fusão e/ou Aquisição
Somente no primeiro semestre de 2018 foram movimentados US$ 2,5 trilhões em fusões e aquisições globalmente, nos mais variados setores que vão desde entretenimento e saúde até o financeiro. Tal aceleração se deve à ameaça vinda das disrupções tecnológicas que tem avassalado setores inteiros. O mercado de analytics e pesquisa, por exemplo, nunca esteve tão aquecido. Em setembro, a SurveyMonkey abriu seu capital na bolsa com um pulo de valor de mercado de 42% no IPO. Em novembro, a SAP anunciou a compra da Qualtrics por US$ 8 bilhões. É um valor excepcional para uma empresa de pesquisa. Mas ela vale isso tudo, pois no cerne da compra, a SAP busca se aproximar do mercado de CRM e insights.
Quando empresas acordam e entendem que já não podem mais brigar com novos protagonistas do mercado ou mesmo destronar grandes marcas em áreas cruciais para a sobrevivência do negócio, é hora de atacar e sair às compras. Talvez a Blockbuster tivesse tido a oportunidade de comprar a Netflix em suas origens, mas não o fez. Muitos varejistas tradicionais viram o crescimento alucinante da Amazon e não fizeram nada enquanto houve tempo. Fusões e aquisições para funcionarem precisam ser executadas cedo e requerem uma dose enorme de humildade para que executivos reconheçam que o futuro já não depende mais somente dos gênios criativos dentro de casa.
Quando a brasileira Movile comprou o iFood muitos a questionaram, mas olha aonde isso foi parar: adicionais US$ 400 milhões foram investidos pelos atuais fundos, criando um potencial para elevar seu valuation para US$ 10 bilhões. O grande segredo para uma excelente aquisição é a preservação dos valores e cultura da empresa adquirida. Muitas empresas quando adquirem outra tendem a sufocá-la, forçando uma integração de cultura e produto nada natural e que, em muitos casos, leva a um agudo fracasso.
O famoso SIRI da Apple — um dos primeiros assistentes de voz a se popularizar no mercado — não é uma criação interna, e sim produto de uma aquisição de uma pequena startup no Vale do Silício chamada SIRI cuja tecnologia fora incorporada ao iPhone 4S em seu lançamento em Outubro de 2011.
O modelo praticado pela Amazon ao adquirir a Zappos anos atrás e o da Microsoft quando adquiriu o LinkdeIn são exemplos de como uma empresa pode crescer e inovar em novos mercados, mantendo as marcas e operações independentes após uma grande aquisição.
Forma 3 - Organicamente
Este é o processo onde as empresas entendem que inovação e reinvenção devem acontecer dentro da empresa e desencadeado pelo próprio time. O grande segredo aqui é como fazê-lo ou mesmo como perpetuar este DNA transformativo ao longo dos anos. Isso começa com cultura. Empresas que contratam e promovem com base na habilidade de pessoas e times para evoluir seus produtos e serviços sempre estão a frente. Um business que vê a auto canibalização de seus produtos como algo positivo — quando a própria empresa mata seus produtos, é ela que está ditando o ritmo de mercado e não o seu concorrente — acaba ficando na vanguarda de suas indústrias.
A Apple (com toda a linha do iPhone), Google ( Ads, Chrome, Carros autônomos ) e HP ( Impressão de 2D para 3D ) talvez sejam ainda o maiores expoentes desta cultura. A cultura deve conter uma visão potente e transformadora de mundo, capaz de atrair grandes talentos que levarão as empresas a altas performances, quando o tema for execução e inovação. Outro grande ponto a ser abordado para que uma empresa tenha um agenda forte de inovação são as pessoas. Isso porque inovação não cai do céu.
É preciso primeiro transformar o negócio, o que demanda um quadro de pessoas altamente motivadas e organizadas de maneira a colaborar ao máximo entre as áreas. E o que é mais importante: pessoas que sejam humildes e capazes de aprender a desaprender. Tão importante quanto criar e aprender algo novo sempre, é também aceitar que desaprender é preciso para se romper paradigmas e visões estratégicas ultrapassadas que já não funcionam mais. Talvez este seja o maior entrave dentro de grandes empresas. A arrogância corporativa tapa os olhos dos líderes que, uma vez na berlinda, perdem sua habilidade de ouvir e aceitar que o novo pode vir de qualquer lugar e de qualquer pessoa.
Forma 4?
Ela vale como conclusão a esta reflexão. É aquela em que os três modos acima não são mutuamente excludentes, mas sim passíveis de serem combinados parcialmente ou em sua totalidade como modelo estratégico. Ou seja, dependendo do mercado, momento, disponibilidade de capital e concorrência, empresas podem copiar, comprar ou mesmo inovar dentro de casa. O mais importante é a visão de que, não importa o que se venha a fazer, produtos e serviços de ontem já não são mais garantia de sucesso amanhã.
Inovar custava caríssimo no passado. Hoje, dois fundadores com um PC, acesso a internet e visão podem atacar qualquer negócio e levá-lo à lona em um piscar de olhos. O que você fará para que o seu não seja a próxima vítima? Descobrir a resposta certa a essa pergunta é sempre o seu próximo desafio. Faça-o enquanto é tempo.
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